Já não escrevo há muito tempo. Talvez porque neste
intervalo, as palavras não fizessem sentido. Talvez porque não conseguia
escrever aquilo que sinto. Fazes-me falta, já te disse? Fazes-me tanta falta.
Encontrei em ti o meu ideal.
Encontrei em ti alguém que eu não fui, nem sou, capaz
de ser. És a minha ambição, o meu sonho tornado realidade. Mas, tu, meu pequeno
Deus de algibeira, já não queres saber. Não te guardo rancor, mas não entendo,
como é que depois de tudo, e o tudo foi pouco, não me queres ver.
Sinto-me abandonada por ti. Sinto-me esquecida. Anseio
pelo dia em que vou voltar a ver-te. Olhar para ti mesmo sem te dizer nada.
Eras o meu ideal. Tens noção disso? Não. Tu nunca
tiveste noção disso.
Eras mais do aquilo que pensavas. E por ti abdiquei
de muitas coisas. Por ti abdiquei de ser feliz. A mágoa que sinto quando penso
no que aconteceu, é mais forte do que qualquer sentimento. Apaga todos os
outros. Porque sim, a mágoa ainda cá está.
O perdão é irreversível.
Não existe perdão.
Nem eu pretendo que me compreendas.
Será que vale a pena?
Será que tu vales a pena? Pensava que sim. Que irias
ficar comigo como tens ficado. Que nos voltaríamos a ver, e tudo seria como
dantes. Mas não, agora é como se nunca tivesses existido.
Deixa-me ser egoísta. Deixa-me ter-te só para mim.
Não tenho saudades tuas.
Tenho saudades de ti. Da tua simples companhia. Do teu
riso alegre que contagiava o meu. Da tua mão sobre a minha quando querias que
te olhasse nos olhos.
Eu olhava. E via-nos aos dois.
Estou só. Porque me quiseste assim. Porque me
deixaste. Porque eras a minha companhia.
Anseio voltar a ver-te, para que me tires desta solidão,
destas cordas que prendem ao que tu não és. Não és meu.
Tenho duas almas em guerra por ti, e nenhuma vai
ganhar, porque tu não vens.
Volta. Tens alguém contigo que te dá a merecida
atenção, o merecido descanso, mas eu também preciso de ti.
Disseste que iria ter uma surpresa. Foi esta a
surpresa que me quiseste dar? Estar longe de mim?
Eu sabia que iria ser assim. Porque eu no fundo
conheço-te.
Sabia que a minha alma egoísta não me levaria a ti, e
me tiraria de ti. Mas também acreditava em algo melhor. Acreditava em ti. Confiava
em nós.
Fizeste de mim uma pessoa a quem podias contar sentimentos
e depois fugir. Mas também fizeste de mim uma pessoa melhor. Estiveste comigo
quando precisei, e mesmo quando não precisei.
Hoje acordei e não estavas a meu lado. Mas alguma vez
foste meu? Alguma vez me pertenceste por inteiro?
Hoje acordei e não estavas a meu lado. Cada vez me
convenço mais que não foste, não és real.
Cada vez me convenço mais que não voltarás a estar
comigo. Que tudo não passou de uma fantasia, tua e minha. Fizeste-me acreditar
que me irias incluir no teu mundo, que quando mais precisasse de ti, tu irias
lá estar. De braços abertos e de sorriso no rosto.
Que não irias ser todo meu.
Mas que metade de mim te iria pertencer.
Prometeste que irias lá estar. Mas alguma vez
estiveste mesmo?
Oh Deus, quem me dera voltar atrás. Voltar a
sentir-te perto de mim. Mas não. O tempo é o aqui e agora.
Não és meu.
Não foste meu.
Não serás meu.
Perdoar não é esquecer. E eu vou esquecer-te. Mas não
me peças para te perdoar. Quanto mais te escrevo, mais a dor da tua ausência se
acentua.
Fica.
Não partas agora.
Demorei tanto tempo a aprender gostar de ti. Cada dia
que passei a teu lado, foi um momento único, e só meu.
Lembras-te de mim? Certamente que não. Já passou mais
de um ano.
Fica, amor.
Era o que eu mais queria.