terça-feira, 31 de março de 2015

O super-homem

Chegas a casa cansado.
Tiras a máscara, e o fato, que envergas todos os dias e todas as noites, pronto a enfrentar o Mundo.
Estás em frente ao espelho e olhas para aquilo que vês.
Um rosto depois de um dia longo.
As rugas, de uma vida cheia, a barba por fazer que anuncia um amor antigo, ainda não ultrapassado.
Os cabelos brancos lembram-te as Primaveras passadas, e os Invernos em que dormiste ao lado da pessoa que amavas.
Sorris.
És tu de novo.
Carregas o peso do Mundo aos teus ombros, e ainda assim, enfrentas o dia e a noite com um sorriso no rosto, e uma expressão bem disposta. Sem pressas, sem tempo, sem saberes bem porquê.
És super amigo, super colega, super pai.
Salvas tudo e todos, porque também já me salvaste a mim, mas esqueces-te que também tu precisas de ser salvo. Porque também há quem queira cuidar de ti.

Novamente, noite.
Ainda não entraste em casa, estás a um passo de abrir a porta, e há alguém a chamar por ti.
Voa super-homem, voa.
O Mundo precisa de ti.

sexta-feira, 27 de março de 2015

O outro lado da saudade

Passaram dois anos e sete meses.
Valeu a pena?
Não vou perguntar se és feliz. Sei que fomos, e isso basta.
Lembro-me do dia em que apareceste de novo, depois de uma ausência prolongada. Chovia torrencialmente, eu sem guarda-chuva, e tu também, porque nunca precisaste dele, e tu vieste ter comigo no meio da avenida. Foi aí que percebei que, jamais, irias deixar-me. Que voltarias sempre. Voltarás?
No outro dia estava com alguém especial. É engraçado como a vida dá tantas voltas. Ele apareceu quando tu te foste embora. Ninguém é substituível. Mas de certa forma, preencheu um certo vazio que a tua partida deixou. Mas há um lugar que ele não ocupará. Esse pertence-te, ainda que não volte a ver-te. Não me completa, porque faltas tu. Faltas sempre tu.
Também estivemos afastados durante algum tempo. Eu decidi afastar-me. Já sabes como sou. Não consigo estar muito tempo no mesmo sítio.
Perguntou-me se tive saudades. Estranhou eu estar fria, ausente. Disse-lhe que sim, que tinha tido. A saudade dói. E tive que, por ti, aprender a não ter. Disse-lhe que tive que aprender a não ter.
Tretas. Quanto mais o tempo passa, mais a saudade aumenta. É a única lembrança que me resta de ti. É a única coisa que fica depois de alguém partir.
Temos uma amiga em comum, e um dia destes vou ter com ela. É a única coisa que me liga a ti. Todas as vezes pergunta-lho se estás bem. E não sabes como dói perguntar. Mas tenho que o fazer. Para saber que ainda existes.
Da próxima vez pergunto-lhe se é mau sentir saudades tuas. Às vezes sinto que é. Devia virar a página, como tantas vezes ela disse para fazer. E viro, mas continuas lá, na página seguinte.
E o mais engraçado no meio disto tudo, é que vives a cinco minutos de mim. Passamos sempre pelos mesmos sítios, vemos sempre as mesmas coisas, pisamos vezes sem conta o mesmo chão. E sinto, sempre que o faço, que estás ao meu lado.
O mais engraçado é que todos os anos, e já lá vão dois, continuas a desejar-me Feliz Natal. E a esperar sempre, que o ano que aí vem seja melhor que o anterior. Não sabes que seria se tu ainda estivesses em mim?
Espero um dia encontrar-te, e mostrar-te o que escrevo.
Foste a única pessoa que disse que gostava do que escrevia e pedia para o fazer mais vezes.
E continuas a ser.
Vais ver, um dia havemos de estar sentados num café, a conversar sobre a ausência e a rirmos disto tudo.
Vais ver.
Será como se nunca tivesse passado um único dia sem nos vermos.