Estás longe.
E já são muitos os Invernos em que estás em silêncio e os Outonos em que não vens até mim.
Não pensei que doesse.
Foram tantos os dias em que fomos felizes.
Lembras-te deles? Lembras-te dos dias em que não havia ausência, dos dias em que éramos verdade e não havia saudade?
Lembras-te de sermos felizes?
Ainda somos?
Se um dia leres estas palavras, vem ter comigo e pede-me um abraço.
Mas não estranhes as lágrimas.
Não estranhes a dor. Ela fala de ti. Do que fomos. Fala dos momentos em que rimos, e em que chorámos. Fala da saudade e da esperança de te reencontrar.
Já só és memória em mim.
Memória.
Sempre a maldita da memória.
Ainda sinto nas minhas mãos o suave toque e o calor da tua pele.
Ainda sinto o aroma do teu perfume que a chuva que cai não apaga e que permanece em mim, entranhado na pele.
Ainda te sinto em mim.
Se te apagasse de mim seria mais feliz?
Se te apagasse de mim serias mais feliz?
Já contei as horas e os minutos, os dias, e os intervalos de tempo para te ver.
E depois desisti.
Porque o tempo disse-me que não voltarias.
Sempre o maldito do tempo.
Também já te procurei em toda a parte.
E nunca te encontrei em lugar nenhum. Sempre vazio, ausência.
Sempre a maldita da ausência.
E depois quero lembrar-me de ti e não consigo.
Não vens até mim.
E depois acontece o que mais temia.
A maldita memória já não permanece.
O maldito tempo já não pára.
Mas a maldita ausência continua.
Algum dia deixarás de o ser?
Quando foste embora levaste-me contigo.
Porque foste embora e já não voltas.
Levaste-me contigo no teu abraço, perdeste-me na saudade e na distância, prometendo que um dia havias de voltar.
Mas esse dia não chega.
O que o tempo leva, o tempo devolve.
O tempo traz verdade.
Mas não te trouxe.
E a chuva continua a cair sobre mim.
