segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O silêncio da noite

Uma hora.
O tempo passa, o dia vai escurecendo os pensamentos com que iluminei o meu amanhecer. Ao longe, o ruído de um dia que finalmente termina. O crepúsculo. O regressar das criaturas aos mais íntimos esconderijos da noite. As estrelas saem para a rua, timidamente, acompanhadas da sua rainha da escuridão, a lua, que hoje abraça um céu imenso.
Nada há de mais fantástico do que o cair da noite, quanto tudo pára. Quando as cordas que nos fazem mover, se partem e aguardam conserto.
É de noite que tudo muda.
Diferentes sombras projectam a alegria da noite.
A música esvoaça pelo ar.
O piano tocado docemente por mãos calejadas de dor, a dor que vai na alma.
O ribombar dos trovões forma a sua própria sinfonia.
E a parte mais bela de tudo isto: o luar imenso, onde uma simples vela se torna insignificante.
O bater do coração. O único som que consigo decifrar, que me transmite vida.
O silêncio, quebrado por um ruído que é como um punho que trespassa seda, vidro que se encontra com o chão e se estilhaça.
É de noite que os amantes se unem sem pudor. É de noite que os corpos sedentos de paixão, se envolvem, ao som de partituras tocadas depressa, acompanhadas de um grito. E de novo, o silêncio.
A fotografia perfeita da vida; o cair de um dia como chuva que facilmente molha os meus sonhos.


"Clair de Lune", Debussy