sábado, 8 de novembro de 2014

Não estamos

O que é o amor?
Aquele sentimento que nos arrebata o coração.
Aquele sentimento pelo qual respiramos, pelo qual vivemos, pelo qual sofremos, e pelo qual somos capazes de matar. Reduzimo-nos à mais pura insignificância, só pelo prazer de amar. Ninguém gosta de não ser amado. Ninguém gosta de ser rejeitado.



Foi em Janeiro que te reencontrei. Trazias no rosto o frio de inverno, e no olhar, a saudade da primavera. Tocaste-me na mão. Pediste-me que te acompanhasse, e eu, inocente de cego amor, fiz o que pediste. Não te larguei mais. Juro, por amor, que não o farei.
“Salvaste-me”, foi o que te disse. E tu, mais tarde, irias fazê-lo de novo. Salvas-me constantemente.

Ensina-me o amor.
Ensina-me a dor de não amar.
Sabes? Aquela coisa que está dentro de mim e cresce por ti. Não sei como lhe chamas.
Aquele sentir-te junto a mim, sabes? Com a chuva lá fora, a escuridão à nossa volta, o teu olhar no meu, as nossas mãos unidas. Aquele aconchego da alma, sabes? A curta distância entre nós, o beijo que ficou por dar, e o abraço no fim da noite.
Amar é ter no tempo um tempo eterno. Será?
Ensina-me a amar-te.

Pedi-te para me levares daqui. Para me perder no fundo do teu olhar. Para levares os meus braços. Para me esconder em ti. E tu não o fizeste. Tinhas outros planos para essa noite. Mas ficou a memória da tua pele sobre a minha. A memória daquele beijo. E o silêncio da noite sem ti, a lua que não veio e o mundo que parou.

Hoje adormeço sozinha de novo.
Não posso mentir que as lágrimas que não vês são saudades do beijo.
Foram muitos os dias que passei ao teu lado, e foram mais ainda aqueles em que tentei compreender-te. E acho que não consigo. Ou então sou eu que não me compreendo. Se calhar é isso. Tenho a certeza que é. Porque tu estás aí, eu aqui, mas não estamos. Compreendes? Não somos plural.

Sim, penso em ti. Sempre.
Vejo-me a perder-te. A nunca mais conseguir alcançar-te. A escorregares das minhas mãos como a areia que o mar leva.
E a dor. Vejo a dor.
E a ausência. Um querer-te e não te ter. Mas pior, saber que já te tive.

Tento abafar o grito que não queres ouvir. O grito final.
Como posso magoar-te tanto?
Como podes viver comigo?
Um dia acabas por matar-me.
Mas não se antes de ti, eu o fizer primeiro.