domingo, 1 de fevereiro de 2015

E a magia acontecia

O final de tarde à sombra de um candeeiro de rua, sozinho, a lançar uma luz que protege os mais audazes. Um abraço apertado, e uma mão atrevida que repousa onde não podia, mas devia. Uma carícia suave num rosto frágil, em que os olhos vêm para além de ti, e os lábios aguardam o beijo há muito anunciado. A conversa vai encurtando o espaço entre nós, que já é tão pequeno. O luar encontra-nos na noite, e alcança o teu rosto, desenhando-o sobre as minhas mãos.
Poderia ter sido no elevador.
São só três andares.
Talvez encostasse a cabeça ao teu peito, e te pedisse para me levares dali para fora. Aproveitava todos os intervalos entre nós.
São só três andares.
Mas porque é que o edifício tem cinco e não trabalhamos no último?
Às vezes o tempo pára, e eu páro com ele.
Olho para a cadeira, que um dia foi tua, e tenho saudades dos dias em que aparecias à porta com um sorriso no rosto, e o peso do mundo nos teus ombros.
Dos dias em que me pedias que te levasse um beijo, em que me admiravas, quando estava concentrada, levantava a cabeça e sorria para ti.
Lembro-me do dia em que te conheci. Trazias no rosto uma mensagem de esperança, e anunciavas que tudo iria ficar bem.
Lembro-me das conversas. Em que podia ficar a ouvir-te, sem dar pelo tempo a pensar. Em que o tempo era nosso.
E a magia acontecia.
Em que olhava para ti, e não acreditava que estavas ali, tão perto, à distância de um toque.
Foram mais os dias em que precisei de ti, do que aqueles em que te tive.
Descobri há pouco que me podias ter feito feliz, e que fizeste feliz.
Prometeste que me irias dar o mundo se fosse preciso, só para me teres contigo.
E deste. O mais engraçado é que deste.
Fui de extremos contigo. Tive o melhor dia da minha vida contigo, e tive o pior. A tua ausência, de mim. Sentir que não te tinha, mas que já te tive.
Aprendi que o pior não é ter. É já ter tido.