O final de tarde à
sombra de um candeeiro de rua, sozinho, a lançar uma luz que protege os mais
audazes. Um abraço apertado, e uma mão atrevida que repousa onde não podia, mas
devia. Uma carícia suave num rosto frágil, em que os olhos vêm para além de ti,
e os lábios aguardam o beijo há muito anunciado. A conversa vai encurtando o
espaço entre nós, que já é tão pequeno. O luar encontra-nos na noite, e alcança
o teu rosto, desenhando-o sobre as minhas mãos.
Poderia ter sido no
elevador.
São só três andares.
Talvez encostasse a
cabeça ao teu peito, e te pedisse para me levares dali para fora. Aproveitava
todos os intervalos entre nós.
São só três andares.
Mas porque é que o
edifício tem cinco e não trabalhamos no último?
Às vezes o tempo pára,
e eu páro com ele.
Olho para a cadeira,
que um dia foi tua, e tenho saudades dos dias em que aparecias à porta com um
sorriso no rosto, e o peso do mundo nos teus ombros.
Dos dias em que me
pedias que te levasse um beijo, em que me admiravas, quando estava concentrada,
levantava a cabeça e sorria para ti.
Lembro-me do dia em que
te conheci. Trazias no rosto uma mensagem de esperança, e anunciavas que tudo
iria ficar bem.
Lembro-me das
conversas. Em que podia ficar a ouvir-te, sem dar pelo tempo a pensar. Em que o
tempo era nosso.
E a magia acontecia.
Em que olhava para ti,
e não acreditava que estavas ali, tão perto, à distância de um toque.
Foram mais os dias em
que precisei de ti, do que aqueles em que te tive.
Descobri há pouco que
me podias ter feito feliz, e que fizeste feliz.
Prometeste que me irias
dar o mundo se fosse preciso, só para me teres contigo.
E deste. O mais
engraçado é que deste.
Fui de extremos
contigo. Tive o melhor dia da minha vida contigo, e tive o pior. A tua
ausência, de mim. Sentir que não te tinha, mas que já te tive.
Aprendi que o pior não
é ter. É já ter tido.
