quinta-feira, 11 de junho de 2015

É preciso saber desistir

É preciso saber desistir.
E hoje, precisamente hoje, desisto de ti.
Porque não vale a pena lutar por algo que não existe.
Não vale a pena lutar sem ti.
E também desisto de mim, porque quando foste embora levaste-me contigo. Sem que eu soubesse. Fugiste, sem dar uma palavra.
Desisto da parte que levaste contigo.

Devia ser proibido desistir. Devia. Mas não é.
Desistir pode bem ser um dos maiores actos de coragem. E é.

Pensei demasiadas vezes em ti. Mais do que seria normal. Mais do que tu mereces.
E tu não voltas.
Não posso ficar eternamente a aguardar o teu regresso. Já lá vão três anos, e não posso aguardar mais três, porque hoje sei que não vais voltar.
Mas o problema não é o tempo. Com isso posso eu bem.
O problema és tu, é saber que já te tive.
E é por isso que preciso de desistir.

Ainda me lembro de nós. Dos passeios que demos, e das gargalhadas que partilhamos. Fazias-me sorrir, todos os dias, e, todos os dias, valia a pena ver-te.
Ainda me lembro de ti, e sei que vou continuar a lembrar-me.
Sei que a saudade fica, e que é a única coisa que me liga a ti.
E sei que vai custar, mas hoje sei que não voltas.
Hoje sei que não ias ficar muito tempo, que não era para ser.


É preciso saber desistir.
É preciso saber libertar.
Porque o amor, se é que alguma vez existiu, também é liberdade.
E hoje liberto-te de mim.
Perdoo-te.

A felicidade pertence aos que esquecem melhor, e eu quero esquecer-te.
Porque é melhor assim.
A vida é de quem se atreve a viver, e eu quero viver, e porque tem que ser, quero viver sem ti.

É difícil aceitar que a vida é feita de escolhas, e que na tua vida, eu não sou uma escolha.
É difícil, mas não é impossível.
Porque encontrei alguém.
Alguém que me dá, todos os dias, o que tu me roubaste.
Confiança.
Aconchego.
Que, todos os dias, me sossega, mas que nunca me deixa em paz, que eu não quero que me deixe em paz.
E enquanto eu sentir a felicidade dele quando está comigo, espero que não voltes, porque um dia pedi-te que ficasses.
Hoje peço-te que não voltes.

Hoje, fecho os olhos e tento fugir da tua inexistência.
A ti, chamo-te, simplesmente, saudade.
E hoje, só hoje, dei-me conta de que desapareceste.
Talvez para sempre.
Que é feito de ti?

"Escrever é usar as palavras que se guardam. Se tu falares demais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer."
Contigo, falei de mais.
E já nada resta para dizer.