sexta-feira, 31 de julho de 2009

A ilusão de viver

É engraçado como por vezes a vida pode ser ridícula. Estar longe de ti é ridículo, e no entanto passo mais tempo sozinha do que propriamente contigo. Escrever isto é ridículo, mas torna-se uma paixão, algo que não consigo evitar. Levo as palavras para todo o lado, e se não as escrevo, é como se ficassem a apodrecer dentro de mim.
Nunca me perguntaram porque escrevo, ou porque prefiro estar com a caneta e o papel, do que na presença de (des)conhecidos. Sinceramente, nem eu sei. Mas agarro-me a isto como se a minha vida dependesse de tal. E em parte, depende. E, se alguém me arranca a vontade de escrever, arranca-me também a vontade de viver.
É incompreensível para alguns.
Inspirador para outros.
Para mim, é apenas uma outra parte de mim. Aquela onde se escondem os sentimentos por expressar, as alegrias por viver e as tristezas por contar.
Ás vezes só me apetece sentir as lágrimas a percorrerem o meu rosto, e por outras vezes temo que isso aconteça.
Não sou de demonstrar sentimentos, e talvez por isso escrevo o que escondo de todos.
Nunca vi ninguém surpreendido por ler os meus textos, assim como nunca vi ninguém a chorar ou a sorrir. Escrevo não para os outros; escrevo para mim, para eu própria não me esquecer daquilo que sou, e agarrar essa "minha parte" com tudo o que tenho, ainda que seja pouco.
Poderia escrever horas e dias, e isto passar a ser um diário, mas eu não gosto de diários; são apenas registos de alegrias ou tristezas. Poderia escrever até a minha mão reclamar de dor, mas haveria tanto que ficaria por dizer... O Homem é uma biblioteca, um livro de páginas e páginas de vida.
E de repente as palavras faltam.
Fico sem saber o que dizer, mas ainda assim escrevo, é ridículo.
Um dia perguntaram-me se já tive de tomar a decisão de magoar ou não magoar alguém. Eu respondi, sem nunca perder essa pessoa de vista, que sim. "Tenha calma, já todos fizemos isso, e até lhe digo, que a maior parte das vezes optou por magoar". A palavra "sim" voltou a sair da minha boca, mas desta vez acompanhada de medo e angústia. O Homem, onde quer que ele esteja, não é um animal pacato ou benevolente. É um animal, que embora gregário, consegue o que quer em troca de algo. Diziam que "enquanto houver dois homens sobre a terra, um tenta sempre deixar ficar mal o outro".
Magoamos as pessoas que, na altura, não queremos, mas que agora percebemos que não havia outra solução.
A dor de ver sofrer os outros faz-nos bem. Actua como um tranquilizador. Ficamos bem por ver sofrer alguém que outrora também nos fez sofrer. Choramos a nossa dor, vemos a dele e sorrimos.
Lembramos o passado e odiamos quem fomos.
Olhamos para o presente.
A vida continua.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O medo

E andava sozinha por entre as ruínas, as teias, daquilo a que outrora chamei "sonho" e hoje recordo o como pesadelo.
Ando perdida, sem saber que rumo tomar. O meu corpo estremece a cada passagem do vento. Estou envolta em medo, abafo um grito que desejo mostrar; aguardo o momento em que tudo isto se perderá para sempre.
Acordo e vejo que tudo está igual, tudo permanece em silêncio, rodeado de uma nuvem de angústia a que muitos chamam de "vida". Rasgos de sol iluminam o que ainda resta de mim. O passado, o presente e o futuro fundem-se num só. Porque tudo foi igual, continua e será sempre assim. Não há nada que mude o destino.
A melancolia de estar sozinha.
Silêncio.
A chuva a cair que molha tudo o que sonhei.
Até as folhas se separam daquilo que as protege; até a alma mais puro cai em tentação; até o mais forte dos Homens encontra um dia a sua fraqueza.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O meu pequeno mundo

Houve tempos em que escrevia tudo o que me vinha à cabeça.
Houve tempos em que o sol era apenas meu, e o luar cobria me durante a noite toda. A noite pertencia-me e o destino andava de mãos dadas comigo.
Não preciso de muito para escrever. Não preciso de muito para ser quem sou. Apenas não suporto o passar das horas. Preferia caminhar sozinha sem ninguém a meu lado, sem a preocupação de chegar a casa. Prefria que o tempo parasse, e eu caminhasse por sombras.
Agora apenas caminho agarrada ao tempo. Por pedras, árvores, mas nem sempre sombras. E ainda anseio por te ver a meu lado, sem o tempo a incomodar.
Mas é tão fácil acabar com o desespero e a desilusão. Corromper a alma, ferir sentimentos, voltar costas ao amor.
E aqui estou, no meu pequeno mundo, na minha mais que falsa realidade, esperando ansiosamente pela tua chegada, e por mais um olhar que me prende eternamente.

Nós, as marionetas

O mundo não passa de uma simples ilusão, por não ser perfeito, é um mundo em que tudo é fruto do desejo. Criámos ilusões, dias que não vêm, rastos de tudo o que ficou para trás. Cremos num mundo perfeito, cremos em algo que está em toda a parte, mas que não está em lado nenhum.
Tudo me agride, e me faz sentir cada vez mais sozinha. Tudo me chama a atenção pelas piores razões. O dia de acordar de tudo isto nunca mais chega. Olham-me com desconfiança; sinto-me incomodada por esses olhares que vagueiam sobre mim. Seres humanos que não passam de criações naturais, aberrações na terra de outros, eles próprios em si mesmos.
"Tudo vai, nada fica e nada regressa"; o dia de amanhã não passa de um simples acompanhante do dia de hoje.
Os dias deixados para trás são memórias amaldiçoadas, restos de tudo a que fui obrigada a viver.
Paixões esquecidas, amores por viver. O lema da vida será apenas matar e morrer. Somos como marionetas. Não sabemos quem puxa os fios e nos faz mover. Mas não passamos de bonecos amarrados ao destino.
O medo de agora está repleto de incautos, pessoas imperiosas, pessoas que sorriem mas que por dentro nada as faz viver. Pessoas que choram e que no fundo a tristeza de nada lhes serve. Dilemas, ilusões, não mais do que simples retratos do desconhecido que sempre nos acompanharão.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O adeus

Sinto-me a chorar por não te ter comigo, por estar afastada de ti.
A dor é incontrolável. Magoa o mais profundo do meu ser.
A distância separa os amantes mais fiéis, mas o meu coração pertence-te, acompanha-te para todo o lado quando estás sozinho.
Sinto-me à beira de um precipício quando não te tenho, porque és parte de mim, e a qualquer momento alguém me pode empurrar e eu perco-me nas teias do passado. Não deixes. Não me deixes.
A dor de te perder corrompe-me a cada segundo que passa. Será por te amar de mais... Se assim é, então gosto de ter esse pensamento. Não voltarei a criar ilusões, não voltarei a sonhar, mas não posso deixar de ter medo de acordar um dia e de já não te sentir, de perceber que és fruto da minha imaginação, mais um coração magoado por mim.
O tempo passa por nós como uma despedida. Ao teu último olhar as saudades começam a chegar e a dor volta.
Adeus.

Segredos

Conto-te segredos de um mundo que não pode ser ouvido. Conto-te palavras, gestos que vimos, sentimentos que expressamos. Conto-te verdades nunca dantes reveladas, segredos esquecidos e que mais tarde provocaram ilusões. Sinto-me perdida no meio de tudo o que me rodeia, da escuridão da noite, da pura verdade que magoa com palavras doces. Fujo de tudo, escondo-me debaixo de um coração outrora magoado por mãos sedentas de paixão. A ti, conto-te as árvores, as flores, o céu azul e o mar imenso. Falo-te de promessas nunca cumpridas e esperanças nunca alcançadas.
É tarde. A noite escurece os meus sonhos, amolece as almas mais puras, e recorda a outros, o dia de voltarem a viver. A noite é tua, a noite pertence-nos.
Rasguei o passado para poder estar contigo. E tu apodreceste o teu para me veres.
Conto te-os meus medos, as minhas mágoas, a dor de pensar e de sentir quando não estás a meu lado. Conto-te o que sofri, e tu contas-me como me proteges. Se choro por não estar contigo, choro por te amar demais.