Há pessoas estranhas durante a noite. Todo aquele secretismo que envolve-as ruas do Porto e que as mergulha numa escuridão quase desértica. Manequins aprisionadas em vidros. Para elas, a noite é igual ao dia. Olhos que vêm e não se mexem. Corpos que se descompõem. Talvez eu quisesse ser assim. E talvez, a noite não me fosse tão deliciosa e apaixonante. As luzes erguem-se ao alto, faíscas da miséria, que projectam sombras no chão imundo. O silêncio nunca mais chega e eu já me sinto a delirar. Os perigos espreitam e a noite torna-se cada vez mais aliciante.
A noite transforma-nos. Atira para a mágoa as pessoas mais sãs. Corrompe as almas mais puras fazendo delas criaturas sedentas de paixão.
Não há música porque a noite cria a sua própria sinfonia.
Continua...